Carta Aletinvest 2021.1

Assimetria: Substantivo feminino que significa discrepância; em que há diferença; falta de igualdade e de semelhança; com discordância: assimetria das formas.

Investidoras e investidores, por definição, buscam assimetrias entre economias, mercados, pares de moedas, ativos… A excelência está em alinhar assimetrias com os ciclos de mercado. Muitos tentam; poucos conseguem. Você quer comprar assimetricamente a ponta mais barata ou a mais cara?

O Brasil idiossincrático não conclui seus ciclos. Por mais que tenhamos assimetrias em relação aos seus pares, insistimos em questões arcaicas e funestas. É como revisitar S.B. de Holanda em Raízes do Brasil de 1936, para entender nosso 2021. O livro traz uma macro interpretação do processo de formação da sociedade brasileira.

A tese central é a de que o legado personalista da experiência colonial constituía um obstáculo, a ser vencido, para o estabelecimento da democracia política no Brasil. Boa parte de nossos desarranjos estão descritos no livro.

Teses, teses e… teses. A dialética do Hegel

Hegel (1816) criou um sistema chamado dialética que é um processo espiral sobre o conhecimento. Primeiro, viria a tese, que corresponde a uma ideia, um pensamento. Depois, a antítese – um pensamento diferente da tese, uma ideia contrária. Por último, a síntese – uma conclusão da tese com a antítese. Ou seja, após o debate de ideias chegaria a uma conclusão resumida. No entanto, essa síntese passa a ser uma nova tese para uma dialética.

Essa estrutura dialética, segundo Hegel, seria aplicada a todos os campos do real, desde a aquisição do conhecimento até os processos histórico-políticos. Sendo que esses momentos (tese – antítese – síntese) se sucedem como um movimento em espiral, ou seja, um movimento que não se fecha.

No Brasil, a dialética não só fecha, como tem fim:

A tese é que o Brasil, vindo de uma das piores crises da sua história recente e com tendência de queda aguda no PIB desde 2013 (imagem acima), reduziu os juros, possibilitando assimetrias interessantes em relação aos seus pares e oportunidades na economia real, com uma possível aceleração na retomada econômica.

A antítese é que não há convergência para essa assimetria apenas baseada nos juros. Reformas políticas, fiscais e administrativas, assim como planejamento e coordenação na execução (a exemplo de Grécia e Irlanda), são determinantes para a retomada.

A síntese é que não há intenção de reformas e nem planejamento pelo Congresso, muito menos pelo Executivo.

TEM FIM: Vamos ter que subir (e muito) os juros no Brasil e não teremos crescimento. (Falarei sobre crescimento mais abaixo).

Selic (taxa de juros) desde 2000

O Copom aumentou os juros em 0,75% (primeiro aumento em 6 anos) e repetiu na ata que seu cenário básico de inflação segue com fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo assim uma trajetória de inflação abaixo do esperado. Por outro lado, a extensão de políticas fiscais de combate à pandemia de COVID-19 ou a frustração com a continuidade da agenda de reformas econômicas podem elevar os prêmios de risco. “O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos. Ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”.

 

Com futuro duvidoso e passado incerto, lamentavelmente, vamos entregando nossa posição:

O Banco Mundial elaborou um relatório intitulado “Perspectivas Econômicas Mundiais” e apontou que o PIB brasileiro deverá crescer 3% em 2021, enquanto a média global pode bater os 4%.

Os países da América Latina e Caribe devem acumular crescimento de 3,7% no ano. O Brasil também está abaixo da média prevista para os países emergentes, que é de 5%, muito por conta da China – sem a inclusão do país asiático, que deve crescer 7,9%, a projeção é de alta de 3,4%.

“Embora a economia mundial pareça ter entrado em um período de recuperação moderada, os formuladores de políticas públicas enfrentam desafios tremendos — em termos de saúde pública, gestão da dívida, políticas orçamentárias, banco central e reformas estruturais — ao tentar garantir que esta recuperação global ainda frágil ganhe força e estabeleça a base para o crescimento robusto”.

O órgão alertou, contudo, que a questão fiscal, que sofreu ajustes e abriu exceções durante a pandemia, principalmente nos países emergentes, como o Brasil, precisará ter atenção.

Segue importante trecho do relatório:

“Nas economias em que as compras de ativos continuaram a expandir, sendo vistas como financiamento de déficits fiscais, esses programas podem erodir a independência operacional do banco central, sofrer o risco de deficiências da moeda que desancoram expectativas de inflação e aumentar as preocupações sobre a sustentabilidade da dívida.

No Brasil, a confiança em alta do consumidor e condições de crédito benignas devem apoiar a recuperação do investimento e consumo privado, impelindo o crescimento para 3%. O setor de serviços se recuperará mais lentamente do que o setor industrial em razão da aversão ao risco persistente entre os consumidores. Embora o estímulo fiscal seja necessário para amortecer o golpe da pandemia, o espaço fiscal já foi, em grande medida, esgotado e a dívida pública teve aumento acentuado. A credibilidade creditícia caiu em toda a região. A combinação de desigualdade enraizada de oportunidades, uma pior percepção da eficácia do governo e a elevação da pobreza poderiam reacender a instabilidade social”, concluiu o banco.

Para onde ir?

“Crescimento é um processo, tamanho é um estado”. “Economias de tamanho” estão presentes quando empresas ganham eficiência produzindo mais. “Economias de crescimento” são as economias internas derivadas da base exclusiva de ativos produtivos que criam diferencial competitivo para empresa quando ela expande para um novo mercado ou produz maiores volumes dos mesmos produtos.

Economias de crescimento podem existir para qualquer tamanho, e podem não guardar relação com o tamanho da firma antes da expansão e nem com os ganhos de eficiência fabril devido ao aumento de produção em larga escala. “Economias de crescimento” dependem da coleção de recursos produtivos e sua exploração independe do tamanho da firma naquele dado momento.

Sendo assim, iniciativas de expansão sem o devido planejamento e preparação podem não resultar em “economias de crescimento”. Esse é o caso do Brasil.

 

Iniciativas lideradas pelo setor privado e atores independentes são vistas como cruciais para o desenvolvimento do ecossistema de inovação não só no Brasil, como no mundo.

Quando você investe em inovação, investe no futuro. Isso tem que acontecer precisamente em períodos em que a economia está lenta e não há crescimento. Pelo viés futurista, essas medidas são de difícil implementação por parte de políticos eleitos.

Na nossa filosofia, a carteira de ativos recomendada busca a diversificação, a proteção do patrimônio, os ganhos com eventos assimétricos e o foco no longo prazo. Selecionar boas gestoras dos fundos, empresas que compõem o book de ações e demais produtos de investimentos requer uma curadoria com foco não só no resultado, mas em boas práticas corporativas e inovação.

Novamente, a diversificação é um dos pilares da Aletinvest e vamos focar ainda mais em um modelo de diversificação estrutural e tática.

Os últimos dez anos trouxeram bastante volatilidade para os brasileiros, com altos e baixos no ciclo das commodities, a crise financeira global, mudanças políticas e a pior recessão na história recente do país conforme mencionado acima. No entanto, apesar destas dificuldades e das taxas de juros tradicionalmente altas no Brasil, o CDI esteve entre as classes de ativos com o pior desempenho entre 2009 e 2018.

Vamos focar ainda mais em carteiras bem diversificadas, incluindo títulos, fundos e ações locais e globais. Pensando no futuro, não vamos abandonar por completo as assimetrias do Brasil, mas vamos reiterar a realocação em diferentes ativos globais.

Gestão de riscos é fundamental

Você já deve estar cansado ou cansada de me escutar falando em diminuição das despesas, na gestão do risco, no foco no longo prazo e na importância dos aportes recorrentes. Mas eu volto a enfatizar o quão crítico eu sou com a gestão do dinheiro. Gerir dinheiro não é tão sexy quanto operar na bolsa, mas é essencial para a sobrevivência. Como consultor e operador, o meu trabalho é encontrar sinais (e não ruídos) no caos global e transformá-los em retornos. É a arte de saber se beneficiar no caos (Taleb).

O ato de investir no mercado financeiro requer conhecimento, disciplina e foco. Não tem fórmula mágica!

Ah!… Então vou montar uma empresa e investir no próprio negócio!

 

Mais uma vez! Não tem fórmula mágica! E é aqui que reforço ainda mais a minha filosofia:

É aprendendo sobre finanças e como o dinheiro trabalha (sim, o dinheiro trabalha) que você vai poder dar o 1o passo para a independência financeira.

Pouco importa a sua formação! Aqui, educação financeira não é uma habilidade; é um estilo de vida!

Poupar, controlar os gastos e investir para o dinheiro trabalhar para você.

A gente não fica fazendo cálculos de quanto teremos daqui a 30 anos. Isso é doideira. Ninguém aqui quer prever nada. A gente poupa, investe e faz sacrifícios.

Nós dormimos bem! Ninguém aqui perde o sono por causa dos investimentos. Se você está com gastrite e rola na cama durante a noite, sugiro rever seus objetivos e o tamanho da sua posição.

Também não temos a “síndrome da tela”. É uma “doença” muito comum, que faz com que as pessoas fiquem conferindo a rentabilidade da carteira várias vezes ao dia. Temos uma estratégia sólida e de longo prazo.

Detestamos modinhas. Somos simples, mas sofisticados. Modinha, seja do que for, de roupa, música… até investimentos… causa mais repulsa do que atração.

Não temos ideologia política. Nossas decisões são técnicas. Pouco importa o lado se o projeto for pela igualdade de condições, liberdade, crescimento, desenvolvimento e geração de riqueza.

Somos “bem resolvidos”! Não temos problemas crônicos de autoestima ou depressão. Isso se traduz em confiança!

Adoramos a palavra NÃO. Quando falam pra gente “não pode”, “não dá”, é aí que o jogo começa. Por que não?

Somos humildes. Temos consultores e advisors. Não sabemos tudo e não estamos sozinhos neste mundo. Se estamos elaborando uma tese de investimentos, iniciando um projeto ou planejando um novo serviço/produto um consultor pode evitar armadilhas.

Por fim, somos pacientes. Sabemos que nossos projetos são gigantes e muitos deles demandam tempo e planejamento. Investir requer tempo. O longo prazo é o seu aliado.

“O que é resistente suporta aos choques e permanece o mesmo; o que é Antifrágil, melhora! Esta qualidade é específica para tudo o que se altera ao longo do tempo como: as inovações tecnológicas; as realizações culturais e econômicas; as receitas culinárias e nossa própria existência como espécie neste planeta.” Nassim Taleb

Esta passagem é do livro “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos” de Nassim Taleb, ensaísta libanês radicado nos EUA. Taleb defende que aprendendo os mecanismos de antifragilidade, o conceito principal do livro, pode-se tomar melhores decisões sem a ilusão de ser capaz de prever o próximo grande acontecimento.

O conceito de antifragilidade está presente na minha filosofia.

Investir não é para todo mundo. Investir é um estilo de vida! Qual é o seu?

 

Aos poucos, as sugestões de mudanças com as realocações e as novas carteiras serão encaminhadas. Você receberá um vídeo no qual explico a tese nesta Carta e respondo dúvidas. Após a leitura da Carta, encaminhe as suas dúvidas pelo canal do Whatsapp.

Um abraço e até breve!

 

Fontes e referências